segunda-feira, 28 de maio de 2007

Carro velho, despesa maior de seguro

Data: 28.05.2007 - Fonte: Jornal O Tempo

Se o carro é velho, o seguro é mais caro. A cada dez veículos com mais de seis anos circulando no Brasil, apenas três têm seguro. Entre os carros com até cinco anos, a média de cobertura sobe para 70% da frota, de acordo com levantamento feito pela AGF Seguros, com base em dados da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg).

Para viabilizar o seguro dos carros mais velhos, as companhias querem regulamentar o uso de peças usadas.

Estamos discutindo propostas para baratear o conserto e, conseqüentemente, o seguro, mas é preciso criar um órgão de regulamentação e certificação dessas peças, para não alimentar o mercado de roubo de veículos?, afirma o diretor da Fenseg, Rodrigues Freitas.

Segundo Freitas, a inviabilidade de segurar a frota mais antiga está na obrigatoriedade de usar peças novas nos consertos, o que faz a relação custo-benefício cair.

Vamos supor que a porta de um automóvel novo custe R$ 2.000. O valor será 6% de um carro novo, avaliado em R$ 30 mil, mas, se o conserto for de um carro velho, de R$ 8.000, o preço da porta será equivalente a 25% do valor total do carro?, explica Freitas.

O governo até criou um seguro popular para baratear os custos para os veículos usados, mas, segundo o coordenador da gerência de seguros de danos e capitalização da Superintendência de Seguros Privados (Susep), não houve adesão por parte das companhias.

A alternativa encontrada para reduzir o preço do seguro dos usados foi restringir a cobertura para apenas indenização integral, feita em caso de perda total, quando o custo do reparo é igual ou superior a 75% do valor do carro. Como o seguro popular não cobre pequenas colisões, não há franquia.

A contratação só pode ser feita com base em um valor do carro previamente determinado. Atualmente, além dessa opção, o cliente do seguro tradicional também pode escolher a indenização por preço de mercado.

Diante dessas restrições, as seguradoras preferiram manter os atuais produtos, justifica Donega. Donega lembra que a regulamentação das peças usadas não depende da Susep.

É o Código de Defesa do Consumidor que determina a obrigação de repor peças apenas por novas, portanto, certificar as peças usadas não passa pela Susep, mas sim pela legislação, destaca.

Para o diretor da área de automóveis da AGF, a regulamentação das peças usadas seria a solução ideal. No entanto, só funcionaria se viesse acompanhada de uma rígida certificação e fiscalização dessas peças, pois existe risco de a medida estimular o roubo de veículos para alimentar esse mercado.

A questão ambiental também está em jogo. Segundo o diretor de produtos da Tokio Marine (seguradora do Banco Real), é preciso definir os locais de destino das peças que não serão aproveitadas.

Permitir o uso de peças usadas é um processo complexo, mas sem dúvida traria significativa redução de custos. Portanto, é algo para pensarmos a longo prazo, afirma Pereira.

Idade, endereço e até filhos influem no preço da apólice

Um mesmo modelo de carro e vários preços para o seguro. A idade, o estado civil, a quantidade de filhos, os endereços residencial e profissional. Tudo interfere na hora de fazer o seguro e cada seguradora tem um questionário diferente.

Segundo simulação para uma Parati 2007, enquanto um homem sem filhos, 43, pagaria R$ 4.239,36, um condutor com filhos entre 17 e 25 anos pagaria R$ 7.057,24, 66,5% a mais.

Se o seguro fosse feito para um jovem de 20 anos, o custo subiria para R$ 15.418,61, ou seja, 263,7% a mais em relação ao homem sem filhos e 118,5% a mais do que no caso do homem com filhos. Se o condutor de 20 anos fosse uma mulher, o preço cairia pela metade e ela pagaria R$ 7.404,91.

Segundo o gerente da área de automóveis da Porto Seguro, o enquadramento do consumidor surgiu há aproximadamente dez anos, como forma de tornar os valores mais justos.

Antes dos perfis, era como se cobrássemos R$ 2.000 para todos os tipos de condutores. Com o perfil, um motorista de 50 anos, com mais tempo de carteira, paga R$ 1.700 e um condutor jovem paga R$ 2.300?, exemplifica.

O diretor de produtos da Tokio Marine (Banco Real), explica que a probabilidade de o jovem bater ou ter o carro batido é maior, até mesmo pelo tempo de exposição do veículo.

Um jovem sai muito mais à noite, lembrando que não há um fator determinante para a formação do preço. O que define o valor é a combinação de vários fatores, afirma.

As mulheres, por exemplo, explica o diretor de automóveis da AGF Seguros, são mais cuidadosas. Elas pagam, em média, de 10% a 25% menos, mas, dependendo do perfil, o desconto pode chegar a 50%, afirma.

Os termos usados nas perguntas são padronizados pela Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg), mas cada empresa pode incluir as questões que achar mais relevantes.

Isso torna a concorrência mais saudável e cabe ao consumidor pesquisar que empresa oferece o melhor preço para o seu perfil.

Diferença entre Zona Sul e Noroeste é de 23%

O mecânico Jairo de Oliveira, 67, morador do bairro Padre Eustáquio, já teve três carros roubados, todos na região Noroeste. Não fiquei no prejuízo porque os três tinham seguro, conta Oliveira.

No entanto, o bairro onde mora o deixa em constante desvantagem, por ser o campeão de roubos de veículos da capital. Atualmente, ele tem um Astra 2001 e, recentemente, pagou cerca de R$ 1.500 pelo seguro.

Se ele morasse no Funcionários, na região Sul, o seguro cairia para R$ 1.350,00. A discrepância também é visivelmente percebida no inverso.

O administrador Marcelo Vitor Alves, 32, mora no Funcionários e nunca foi assaltado. Ele tem um Siena 2005/2006 e pagou R$ 1.603 pelo seguro. Caso ele morasse no Padre Eustáquio, o valor subiria para R$ 1.971, que usou a mesma seguradora para simular os preços.

A diferença, de R$ 368, corresponde a um aumento de 23% em relação ao Funcionários. Um levantamento divulgado no site do Sindicato das Empresas de Seguros Privados (Sesmig) mostra que o índice de roubos e furtos de veículos no Padre Eustáquio é três vezes maior do que o do Funcionários.

Segundo os dados, que tiveram o ano de 2005 como base, enquanto 103 veículos foram roubados no Funcionários, no Padre Eustáquio, o número chegou a 403, uma média de mais de um carro por dia.

Nenhum comentário: