terça-feira, 20 de abril de 2010

MP quer cancelar 40 mil seguros de veículos sob suspeita ASCOBOM

MP quer cancelar 40 mil seguros de veículos sob suspeita

Data: 20.04.2010 - Fonte: Marinella Castro - Estado de Minas

Ministério Público de MG move ação contra a Ascobom, que oferece cobertura

para carros a preços populares.


Meta é anular contratos e bloquear bens para devolver a clientes

Da noite para dia, os mais de 40 mil donos de veículos de Belo Horizonte que

confiaram na Associação do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

(Ascobom) podem passar a rodar sem seguro pelas ruas. Depois de três

anos de investigação, o Ministério Público de Minas Gerais está movendo

ação civil coletiva com pedido de liminar contra a entidade e seus

fundadores, pela venda sem controle da chamada proteção automotiva,

uma espécie de seguro, que vem crescendo em um mercado sem lei.

No entendimento do MP, a operação não é regulamentada – e, por isso,

é ilegal. O MP exige que sejam declarados nulos todos os contratos

celebrados entre a Ascobom e os consumidores e que os bens da

entidade se tornem indisponíveis para devolução dos valores pagos

no último mês. A ação vale para todo o território nacional.


Nos próximos meses, o MP deve mover processo também contra

outras associações que operam irregularmente o mesmo produto, chamado

de proteção automotiva. Em Minas Gerais, já são cerca de 30 entidades

que, juntas, devem somar mais de 100 mil associados. A Ascobom opera

no mercado há seis anos. Em 9 de março de 2008, o Estado de Minas

mostrou a atuação de entidades de classe na venda de seguros como a

Ascobom que, na época, contava com 47 mil associados.


Com as denúncias das 25 investigações contra entidades com atuação

similar à Ascobom, abertas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal

em Minas Gerais, a entidade teria sido esvaziada. Na falta da Ascobom,

o Centro Social de Cabos e Soldados (CSCS), que representa os praças

da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, também

teria aderido à moda de fazer seguro automotivo para os militares.

Quem liga para o telefone da entidade, localizada no Nova Gameleira,

Região Oeste da capital mineira, logo é informado pelo atendimento

eletrônico de que o centro também faz seguro de veículos em todo o

estado, um filão e tanto, já que a corporação tem em seus quadros cerca

de 47 mil pessoas. Parentes de militares também podem aderir.

O seguro é hoje uma das vitrines do Centro Social, fundado em 1986 como

um clube de lazer para os militares. O CSCS é administrado pelo

cabo Álvaro Rodrigues Coelho, eleito com o apoio do ex-deputado federal

e hoje vereador em Belo Horizonte, Cabo Júlio. O ex-deputado federal,

denunciado por envolvimento com a máfia das ambulâncias, já foi diretor

comercial da Ascobom. O Estado de Minas tentou conversar com

Cabo Júlio, que se recupera de doença, mas não obteve retorno.

Para a Ascobom, a investigação do Ministério Público é apenas o início

de um processo . “A ação do MP é apenas opinativa. Vamos nos defender

e a Justiça vai verificar se os indícios de irregularidade apontados existem

ou não”, rebate Domingos Sávio de Mendonça, chefe do departamento

jurídico da associação. Segundo ele, a proteção automotiva oferecida

nasceu como opção para os veículos com mais de cinco anos de uso,

excluídos pelo preço do seguro formal. “No Brasil não há seguro popular”,

justifica. O diretor de comunicação da entidade, Geraldo de Freitas

Mourão, garante que vê com bons olhos a investigação. “Vamos oferecer

nossa defesa para o juiz. Se for preciso, vamos nos adequar. Não há

guerra”, diz.

Em 2008, o empresário Romney Alves bateu seu carro importado, um

Audi A3. Até hoje, não conseguiu reaver o prejuízo com o reparo do

veículo. Romney pagava em dia a proteção automotiva da Ascobom, mas

a associação se negou a pagar o reparo e agora o empresário aguarda

por uma decisão da Justiça. “Eles alegaram que meu carro era rebaixado.

No entanto, eu nunca neguei isto. Meu carro foi vistoriado desta forma”, diz.

Segundo o empresário, seus problemas começaram logo na vistoria.

“Registraram que meu carro era nacional sendo que é um modelo importado.

Erraram também outros detalhes, como a descrição da roda”, conta.

Como na proteção automotiva os prejuízos são rateados, os valores das

prestações do empresário variavam em torno de R$ 150. “Na época, eles

orçaram em R$ 12 mil o reparo do carro. Eu consegui consertá-lo por

R$ 6 mil, e é este valor que tento receber há dois anos”, apontou.

MEMÓRIA

>> 2004

São feitos os primeiros registros da criação de cooperativas de seguros,

que surgem a partir de grupos fechados. Eles recolhiam mensalmente

valores para um fundo entre amigos, cotizando entre si possíveis prejuízos

com roubo de carga, oficina mecânica e perda de pneus.

>> Novembro de 2007

Sob pressão das companhias de seguros, a Susep denunciou uma lista

de 37 entidades por vendas irregulares de seguros ao Ministério Público

Federal e à Polícia Federal. Minas Gerais concentrava 26 entidades

>> 2008

Em Minas Gerais, nove entidades passam a ser investigadas pela Polícia

Federal. Dentre essas, duas se tornaram objeto de ação penal na

Justiça Federal. Seus diretores estão respondendo por crime de

operacionalizar seguros sem autorização do poder público. São elas a

Associação de Transportadores de Cargas do Leste de Minas

(Astransleste), de Ipatinga, e a Associação de Proteção e Benefícios aos

Proprietários de Veículos Automotores (Protecar).

Em dezembro, a Susep conclui os autos de infração e multa contra duas

entidades acusadas de prática ilegal de venda de seguros. Reincidente,

a UPS Serviços Sociedade Brasileira de Gestão e Assistência Ltda., de

São Paulo, é condenada a pagar multa de R$ 7.053 bilhões. por exercício

irregular de atividade sem registro. No mesmo mês, a Susep também multou

a Associação dos Transportadores de Carga Geral, com sede em Maraú, no

Rio Grande do Sul, em R$ 53 milhões.

>> 2009

Em 21 de agosto, a 5ª Vara Cível de São José dos Campos (SP)

concede a primeira decisão contra as falsas seguradoras no país, em

caráter de liminar, envolvendo a Associação de Proteção aos Proprietários

de Veículos Automotores (Approve). A juíza Ana Paula Theodósio de

Carvalho determina a cessação das atividades da entidade, que continua

funcionando, mas não pode mais aceitar novos associados nem cobrar mais

nada dos antigos contratos. Em Minas, a Ascobom responde a processo

similar no MP.

>> 2010

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por meio da

14ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, propõe ação civil

coletiva, com pedido de liminar contra a Ascobom e seus

associados/fundadores. A liminar para todo território nacional, tem objetivo

de impedir a comercialização, a oferta, a publicidade e a cobrança de

valores referentes ao chamado Programa de Proteção Automotiva.

É pedida também a fiscalização dos atos de administração da Associação,

a desconsideração de sua personalidade jurídica, indisponibilidade de

seus bens e a de seus associados-fundadore

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